domingo, 7 de novembro de 2010

Mães do Movida protestam




Filipe Sanches


Da redação

Três anos, sete meses e 22 dias depois do assassinato do filho, a professora aposentada Maria Andrelina Ferreira Pereira ainda chora quando lembra do episódio que tirou a vida de Bruno Abner, o seu filho mais velho. Bruno foi morto por bandidos na porta de casa. O crime teria ocorrido por engano, acredita a mãe. Bruno era despachante de voos em uma companhia aérea.

Uma vez por semana, Andrelina visita a sepultura do filho em um cemitério particular em Ananindeua. Sozinha, ela ora e conversa com o filho. "É quando eu reflito sobre a minha vida, sobre a vida dele, sobre como tudo mudou agora. Depois de todo esse tempo, três anos e sete meses, ainda parece que foi ontem", diz Andrelina.
Depois da morte de Bruno, Andrelina diz ter perdido um pouco da vontade de viver. Vontade que ela reencontrou ao compartilhar a dor que sentia com outras mães que perderam seus filhos para a violência. A mãe de Bruno é uma das mais de 70 mães que participam do Movimento pela Vida, o Movida.

Criado por Iranildes Russo, mãe de outro jovem assassinado - o promotor de eventos Gustavo Maia Russo -, o Movida se reúne hoje, Dia de Finados, em frente ao cemitério parque Recanto da Saudade, localizado atrás de uma arena de shows no km 3 da rodovia BR-316, em Ananindeua. É lá que estão enterrados parte dos filhos perdidos pelas mães do Movida.

Além de servir como ponto de apoio às famílias, o Movida se reúne para cobrar a punição dos envolvidos nas mortes. Ao grupo, se uniram famílias de vítimas de erro médico.
Inês Pires Teixeira, mãe do Movida, perdeu a filha Roberta Pires Teixeira Miranda durante uma cirurgia reparadora bariátrica. Roberta, segundo a mãe, foi submetida a um procedimento cirúrgico irresponsável e faleceu no hospital depois de uma transfusão de sangue.

A Justiça ouvirá novamente os médicos e enfermeiros envolvidos na morte de Roberta. As novas oitivas estão marcadas para os dias 22, 23, 24 e 25 de novembro. Inês promete acompanhar de perto os depoimentos, com o apoio das outras mães do Movida.

Hoje, o grupo distribuirá panfletos informativos sobre o erro médico. O material indica como evitá-los e como cobrar a punição. Inês preside hoje o Instituto Vida Brasil, a antiga Associação Paraense Contra Erro Médico (Aspacen), que atende e orienta as famílias que perderam parentes por atos médicos irresponsáveis ou imprudentes. Para falar com o Instituto Vida Brasil, basta ligar para a presidente Inês Pires para 8113-2425.

Andrelina teme que novo julgamento retire condenados da cadeia

"Tem mães que não gostam de ir ao cemitério porque não sabem como vão se sentir. Eu sinto que se eu não for lá, estarei abandonando meu filho. Eu converso com ele, conto as histórias, faço as minhas orações", conta Maria Andrelina. "O Bruno era o filho mais velho. Depois de dois anos passados, isso para mim realmente parece que foi ontem, e muitas vezes parece que nunca aconteceu. Um dia, Deus vai me dar entendimento e sabedoria para que eu tenha a aceitação de tudo isso, mas hoje ainda é difícil".

Bruno Abner foi assassinado em março de 2008. Dois dos acusados de participação no crime, assaltantes, morreram. Os outros dois foram presos, julgados e condenados em março de 2009. Carlos Eduardo Pereira Pinto cumpre no Sistema Penal os 42 anos de prisão a que foi condenado. Adriano Cézar Gouvea Correia, também preso, terá de cumprir 41 anos de prisão.

Maria Andrelina teme que um novo episódio possa tirar da cadeia os dois algozes presos de Bruno Abner: "Para minha tristeza, eu tive a informação de que três defensores públicos estão querendo anular o julgamento dos dois assassinos do meu filho e tirar eles da cadeia. Eles querem anular um julgamento que já estava no passado, que já estava sepultado dentro do meu coração".

Quem são os filhos do movimento?

Conheça as histórias de alguns dos nomes das vítimas da violência e do erro médico cujas famílias integram o Movimento Pela Vida:


- Bruno Abner, morto aos 27 anos, despachante de voo, foi morto por engano por bandidos na porta de casa, em março de 2008.

- Gustavo Russo, promotor de eventos, foi morto aos 27 anos por policiais militares durante uma perseguição na avenida João Paulo II, em janeiro 2005. Ele teria sido confundido com um assaltante.

- Allan Barbosa, 17 anos. Morto por erro médico durante uma cirurgia bariátrica em 2009.

- Maycon Pantoja, de 28 anos, funcionário público, foi morto em frente a uma lotérica no Centro, em dezembro de 2008.

- Rodrigo Lobato morreu durante um assalto aos 22 anos, quando fazia o terceiro ano de direito. O crime ocorreu em setembro de 2009.

- Roberta Pires Teixeira de Miranda morreu aos 25 anos vítima de erro médico, durante uma cirurgia reparadora feita depois de uma cirurgia bariátrica.



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